Santa Apolónia, saio do comboio e as pessoas atropelam-se. É a confusão total. Um cargo a manter. Um atraso a evitar. O chefe que ralha, o superior que castiga, o patrão que despede. Lisboa, plena no seu esplendor, rejubila em toda a sua beleza. Insensível aos problemas dos teus trabalhadores, turistas ou moradores, a ela pouco importo o atraso, o emprego ou a reunião. Do alto da encosta, maduros edifícios observam-me e compreendem a minha revolta. Que raio de tempo em que vivemos.
Continuo o meu caminho, desligo a música. Fico a ouvir Lisboa, no seu palpitar de vida. Hora de ponta, que raio de tempo que está hoje. Ou de falta dele, não do tempo meteorológico, do tempo dos segundos, daquele que falta sempre, ou do que demora a passar, nunca aquele tempo que está a andar à velocidade correcta. É uma boa questão esta do tempo. Nunca anda à mesma velocidade e está sempre contra nós. Que raio de tempo que temos hoje em dia.
Desço para escuridão do metropolitano, e que raio de tempo em que vivemos. Que vejo quando olho para a janela? Escuridão. Tristeza. Deixo-me a divagar e chego à minha estação, nova corrida às saídas. A alegria de ser o primeiro a ver a luz verde. A notória pobreza de espírito. O triste é vermos imensas almas desoladas. A infelicidade estampada no rosto, a preocupação. É a saudade, o nosso fado.
A vida é muito mais que um trabalho, que a viagem ao trabalho. A sua beleza não é facilmente compreendida, nem aceite. Muitas vezes ignoram-se esses pensamentos. E sentimentos. A vida será muito mais a viagem de regresso, do que a ida. O verdadeiro momento da vida, é o reencontro connosco próprios, e não o momento da partida. É algo que facilmente ignoramos, mas a vida não é hoje, é sempre o amanhã, a caminhada é o caminho a ser seguido. A busca, é o gesto a procurar. O eu, a pessoa a seguir. E só assim estaremos bem connosco próprios. E com os outros.
Olho e Lisboa observa-me embelezada pela sua luz linda e única. Mirando-me no seu manto de rosas, de becos e cantigas. Lisboa de tradições e culturas. Lisboa veste-se de Prada ao final da tarde. E é altura que regressar.
Ainda não tinha lido, pela imagem só podia ser o GT. É esse o sentimento, ou falta dele que (não) se sente em Lisboa.
ResponderEliminarContinuem essas boas opiniões pessoal, abraço!
bem toste este para mim está transcendente. sem descorar dos outros bons textos que vocês escrevem e das opiniões que têm para dar, é este tipo de narrativas cheias de sentimento sobre a vid ou ausência dela, sobre as coisas quenos assombram e preocupam e logo a seguir nos maravilham! Estás de parabéns, vivi essa viagem contigo :)
ResponderEliminarPatxó
Mário, sabes que o humor de Magritte é eterno.. E muito obrigado a ambos pelos comentários ;)
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