Introdução

Grupo de jovens, mais ou menos coerentes, uns de esquerda outros de direita, outros nem sabem de onde, deram por si a debater os mais variados assuntos a cada encontro. Ora economia ora desporto, passando pela religião até aquilo que em Portugal se chama de Política.Com a evolução dos seus percursos pessoais, e da necessidade de um local para promover essas trocas de opiniões, (já fartos de serem expulsos de certos cafés) quatro deles juntam-se e nasce este espaço. Um local para todos, onde todas as opiniões serão bem-vindas desde que civilizadas, que seja também a vossa casa. Sim, nós sabemos que parece um T1 em Sacavém, com vista para a linha do comboio. Mas não dá para mais, estamos à rasca.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Comodamente acomodados

   Sinto-me mal por transcrever Pessoa.
  Primeiro, porque metade dos jovens pensa que Pessoa é simplesmente uma pessoa. Não conhecem a dimensão e a beleza dos seus textos, dos seus pensamentos. E são eles maioritariamente que lêem este Blog. Também é verdade que os tais que não sabem, duvido que tenham paciência para ler o que de mau se escreve aqui, que saibam que este blog existe, ou sequer o que é um blog.
  Segundo, se citasse uma música dos 30 Seconds do Mars ou Lady Gaga, toda a gente o iria conhecer, um texto de Pessoa, nem tanto. Não me intitulo mais culto ou sabichão que os restantes, mas é uma geração (cometendo o erro de generalizar - mas é assim, também erro) que de Camões, Pessoa ou Saramago apenas se lembra dos textos chatos que tinha que ler para Português no 9º ou 12º ano. E que apenas porque tiveram trabalho a "arranjar" uns resumos "bacanos" na internet, e a "otária" da professora nem notou. Quem não notou foram eles, o erro que cometeram. Falam tanto do orgulho de ser Português e não conhecem quem mais alto elevou o nome de Portugal. E não é o Mourinho ou Ronaldo.
  Terceiro, o erro que é colar um poema de Fernando Pessoa a um meu. Só irá realçar a mediocridade do meu, que até podia passar despercebida sozinha. Imaginem Ricardo Araújo Pereira a fazer piadas ao pé do Batanetes. É como me sinto.


"Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca..."

  Não sei precisar a data do texto, e não fui pesquisar, numa tentativa - frustrada - de me mostrar culto ( "Até sabe datas de poemas e coiso") mas devem ter passado cerca de 90 anos e não pode haver retrato mais fiel da nossa geração. Nunca vivi noutra geração, por isso não posso concretizar comparações, mais estupidamente só os que o fazem, vivendo noutra e vendo esta de fora. Hum, vendo de fora? Pois é, vendo de fora e compro de dentro. Agora a sério, se não vivem, evitem tecer comparações. E sim, isto é uma crítica. Sei que com a quantidade e psicólogos, psiquiatras, sociólogos, políticologos e outros ólogos que se formam, têm que existir cada vez mais maluquinhos e casos de estudo, ou case-study parafraseando um qualquer deles.
  Mas os maiores críticos da nossa geração temos - e devemos - de ser nós. Não tivemos guerra, não crescemos a pensar que íamos para a guerra, não passámos fome, nenhum de nós teve que trabalhar para sobreviver na adolescência. Nunca nos bateram na escola (só uns aos outros), nem nos sentaram com orelhas de burro. Pois, se calhar foi isso que faltou, conhecer a adversidade e a humilhação.
  Somos a geração com mais e melhores estudos, mas isso não significa a melhor preparada. Não conhecemos a adversidade, não sabemos o que é ter que lutar por algo. Pedíamos Game-Boy, tínhamos game-boy, queríamos dinheiro para sair à noite, tínhamos. Hoje que o nosso País se encontra numa situação difícil, e os nosso pais não nos podem dar o que nos foi habituado, auto-intitulamos-nos "Geração à Rasca". Acomodámos-nos a ter tudo o que queríamos e por isso, hoje, pensamos que não temos nada e somos uns injustiçados da sociedade.
  Uma geração para quem a escola é uma espécie de passatempo, ou hobbie. Hoje em dia nem se chumba! Até os mais irresponsáveis ou Preguiçosos são levados ao colo"! Abram os olhos, se querem uma vida melhor lutem por isso! Façam por isso! Não esperem como toda a vida, que vos seja oferecida! Estudem! Dediquem-se! Poupem dinheiro! Não vivam de compras! Roupas ou acessórios fúteis! Comprem livros! Passeiem e leiam livros. Escrevam, desenhem, cultivem o conhecimento e a cultura. Vejam um bom filme. Aprendam com os mais velhos. Aceitem as diferenças e aprendam com as adversidades. Não aceitem a derrota. Não desistam ao primeiro obstáculo, não vivam do ócio e da comodidade. Não se preocupem em andar de carro, preocupem-se em andar com um livro. Não vivam para ir a discoteca. Vivam por uma boa tarde no café com os amigos. Leiam o expresso e não o correio da manhã. Leiam a Visão e não a Caras. Não passem a noite a ver telenovelas, passem a noite numa boa conversa!
  Não podemos querer mudar o mundo, sem nos mudarmos a nós primeiro. Se correr mal não vivam do orgulho e honra, deixem o canudo pendurado e esperem melhor oportunidade, trabalhem como caixa ou repositor, sirvam hamburgues ou apanhem tomate.
  Não esperem por D.Sebastião! Se fizerem por isso trabalhando e nunca desistindo, a vossa oportunidade chegará. Até lá não se lamentem. Lutem para que ela chegue!

3 comentários:

  1. Não podia deixar de concordar com tudo o que disseste aqui, é incrívelmente chocante como toda a gente passa ao lado daquilo que é suposto vermos todos com clareza, o que realmente importa, a adversidade como impulso para se chegar mais longe. Respondo te com todo o orgulho e coleção que tenho de livros do grande Fernando Pessoa:

    Em plena vida e violência
    De desejo e ambição,
    De repente uma sonolência
    Cai sobre a minha ausência.
    Desce ao meu próprio coração.

    Será que a mente, já desperta
    Da noção falsa de viver,
    Vê que, pela janela aberta,
    Há uma paisagem toda incerta
    E um sonho todo a apetecer ?

    (Cancioneiro)

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  2. Nem eu iria criticar desta forma tão delicada! Uma bela sticada à verdadeiro hoquista! Sem mais...

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  3. Como já foi dito concordo com tudo o que dsseste, e tenho pena que muitos da tua idade e até mais velhos não passem por aqui e leiam tudo isto, mas enfim para muitos isto é seca...

    Gerações à rasca sempre ouve e vai haver, mas ok quem sou eu para quetionar isso, é o que me costumam dizer...talvés, tenha tido um pouco de sort... mas também tive um PAI que me obrigou a trabalhar nas férias, e hoje orgulho-me disso....

    Talvéz seja esse o erro da minha geração, de proteger demais os nossos filhotes, não os mandar à luta como fizeram a maior parte dos nossos pais, sempre vos demos tudo, não vos preparamos para as adversidades da vida a maior culpa é nossa, sem duvida...

    Mas vcs têm uma vida inteira pela frente à que lutar por ela...e muitos de vcs têm força para isso, os outros ficarm pelo caminho sempre assim foi, mas uma certeza eu tenho GERAÇÃO À RASCA para mim é a minha que fica sem emprego, e quer pagar estudos e comida aos seus, e não tem dinhiro para isso, porque esses sim já têm pouco para lutar....

    Por isso como costumo dizer, para a frente é que é o caminho não baixem os braços...lutem por fazer o que querem que mais tarde ou mais cedo chega a vossa vez...

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